sexta-feira, novembro 27, 2015

Lições para 'o caminho' [Km 265]

Boa influência é coisa que não existe. Toda influência é imoral… Imoral do ponto de vista científico.
Influenciar uma pessoa é emprestar-lhe a nossa alma. Essa pessoa deixa de ter ideias próprias, de vibrar com as suas paixões naturais. As suas qualidades não são verdadeiras. Os seus pecados, se é que existe o que se chama de pecado, vêm-lhe de outrem. Essa pessoa torna-se o eco da música de outra pessoa, intérprete de um papel que não foi escrito para ela. A finalidade da vida é para cada um de nós o aperfeiçoamento, a realização plena da nossa personalidade. Hoje, cada qual tem medo de si próprio; esquece o maior dos deveres: o dever que tem consigo mesmo.
Naturalmente, o homem é caridoso. Dá de comer ao faminto, veste o maltrapilho. Mas a sua alma é que sofre fome e anda nua. A coragem abandonou a nossa raça. Talvez nunca a tenhamos tido. O temor da sociedade, que é a base da moral, e o temor a Deus, que é o segredo da religião… Eis as duas coisas que nos governam. Contudo sou de parecer que se o homem vivesse plena e totalmente a sua vida, desse forma a todo sentimento, expressão a toda ideia, realidade a todo devaneio… Creio que o mundo receberia um novo impulso eufórico, um impulso de alegria que nos faria esquecer todos os males do medievalismo e voltar aos ideais helênicos… Talvez a algo mais belo e mais rico do que o próprio ideal helênico. Mas o mais valoroso dos seres humanos tem medo de si mesmo.
A mutilação do selvagem subsiste tragicamente na renúncia que nos estraga a vida. Somos punidos pelo que enjeitamos. Todo impulso que nos empenhamos em sufocar incuba no nosso espírito e nos envenena. Peque o corpo uma vez, e estará livre do pecado, porque a ação tem um dom purificador. Nada restará então, salvo a lembrança de um prazer; ou a volúpia de um arrependimento. A única maneira de se livrar de uma tentação é ceder-lhe. Resistamos-lhe, e a nossa alma adoecerá de desejo do que proibimos a nós mesmos, do que as suas leis monstruosas tornaram monstruoso e ilegítimo. Tem-se dito que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. Também é no cérebro, e só nele, que ocorrem os grandes pecados do mundo.
(Oscar Wilde; 'O retrato de Dorian Gray')

sexta-feira, julho 17, 2015

Lições para 'o caminho' [Km 264]

Vamos morrer um dia

Grande parte das civilizações primitivas costumava enterrar seus mortos na posição fetal. "Ele está nascendo para uma outra vida, de modo que vamos colocá-lo na mesma posição que veio para este mundo", diziam.

Para estas civilizações – em constante contato com o milagre da transformação – a morte era apenas mais um passo no longo caminho do Universo.

Aos poucos, fomos perdendo a suave visão da morte. Mas não importa o que pensamos, o que fazemos, ou em que acreditamos: queiramos ou não, vamos todos morrer um dia. Então, é melhor fazer como os velhos índios iaqui: usar a morte como conselheira. Perguntar sempre: "já que vou morrer, o que devo fazer agora?"

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quarta-feira, março 04, 2015

Lições para 'o caminho' [Km 263]

Razão de existir

Sempre precisaremos ter humildade suficiente para aceitar que nosso coração entende a razão de estarmos neste mundo. É difícil conversar com o coração, mas será mesmo necessário? Basta ter confiança, seguir os sinais, viver sua lenda pessoal, e, cedo ou tarde, percebemos que estamos participando de algo, mesmo que não possamos compreender racionalmente. Diz a tradição que, no segundo antes da nossa morte, cada um se dá conta da verdadeira razão da existência. E neste momento nasce o Inferno ou o Paraíso.

O Inferno é olhar para trás nesta fração de segundo e saber que desperdiçamos uma oportunidade de dignificar o milagre da vida. O Paraíso é poder dizer neste momento: 'cometi alguns erros, mas não fui covarde. Vivi minha vida e fiz o que devia fazer'.

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quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Lições para 'o caminho' [Km 262]

16 regras básicas para ser mais feliz
(Autora: Eunice Ferrari; 10/03/2007)

1. Determine-se a sofrer menos. Lide de forma mais tranquila com as adversidades, não se desespere. Na maioria das vezes, quando nos desesperamos perdemos a capacidade de raciocínio e tomamos atitudes que, em sã consciência, não tomaríamos.

2. Procure compreender, não só racionalmente, mas com o coração, que uma das maiores leis que existe do planeta é a da transitoriedade. Nada é permanente, tudo passa. A vida é uma grande roda na qual estamos atados. Em um momento estamos em cima, e nessa hora devemos agradecer ao universo e não deixar passar as oportunidades e as bênçãos que este nos dá, e nos preparar para "os dias mais frios" que, inevitavelmente, chegarão. Quando sabemos que o inverno virá, de uma forma ou de outra, deixamos alguma lenha reservada para nos aquecer nas noites frias.

3. Busque o prazer. Pare de fazer o que não gosta só para agradar à pessoas que não dão a mínima pra você. Não seja tolo, ame-se, seja mais amoroso com você, não se violente fazendo o que não gosta. Permita-se dizer 'não'.

4. Se a vida te dá um limão, aprenda a fazer uma refrescante limonada. Pare de se queixar do que não possui. Aprecie o que a vida deu à você e, se tiver disponibilidade interna para isso, poderá observar que tem o bastante para este momento, e que se acha pouco, deve começar desde já a construir um futuro mais abundante. A queixa só mostra que você ainda está atrelado à sua criança abandonada, impotente em sua dependência. Coloque em sua cabeça que não somos marionetes nas mãos de uma grande força invisível. Se sua vida não está boa, faça melhor daqui para frente!

6. Ocupe-se de poucas coisas. Se você é o tipo de pessoa viciada em fazer muitas coisas, ter diversas atividades em um só dia... Desculpa, mas você nunca conseguirá tranquilidade. Sua alma estará sempre ansiosa e atormentada. Seja mais amoroso com você, observe seus limites e respeite-os.

7. Busque dentro de você pensamentos de paz e harmonia. Saia do desassossego. Comece por diminuir seu ritmo de respirar, de andar e até de pensar. Momentos de ócio são ótimos remédios para o corpo e a alma.

8. Aceite os obstáculos que a vida impõe à você sem se achar a pessoa mais sofredora deste planeta. Acredite, existem pessoas que neste exato momento estão sofrendo bem mais do que você. Busque a compreensão e a serenidade. mesmo em meio às adversidades.

9. Busque e pratique a simplicidade. Diminua o tamanho de sua ambição. Já parou para pensar nisso? Ou ainda está preso na armadilha social de "somente ser alguém se for bem-sucedido"? Será que você precisa mesmo de tudo o que considera importante neste momento? Seja simples e natural - no falar, no vestir, no pensar. Lembre-se: a vida é uma só e o momento é agora.

10. Viva cada momento a seu tempo, um dia de cada vez. Para isso, desenvolva a fé de que há algo ou alguém cuidando de você. Faça a sua parte e entregue o que não está sob seu controle à Deus. Confie, Ele se encarregará de cuidar para que tudo dê certo.

11. Não se submeta aos humores dos outros - viva e seja você mesmo, independentemente do que o outro é e sente em relação à você.

12. Procure ser independente. Deposite a construção de sua felicidade apenas em você. Quando você aprender a se amar, tudo te será dado. Ame-se, namore-se, cuide-se, apaixone-se por você. Não de maneira narcisista, mas como filho de Deus que você é.

13. Pare de fazer planos a longo prazo, pois dessa forma você perde o controle sobre sua vida. Faça-os ano a ano, pois dessa forma é possível organizar seus passos. Mas planeje fazer coisas que estão sob seu controle.

14. Tenha como objetivo melhorar e desenvolver o que tem de melhor e aperfeiçoar o que ainda não está bom, mas de maneira amorosa e racional.

15. Você pensa na morte? Pois pense. Você é mortal, sabia? Nenhum de nós escapará desse destino. Não pense na morte de maneira mórbida, mas como o final natural e inevitável desta linda jornada por este planeta.

16. Aprenda a envelhecer com dignidade. Cultive sua alma, suas melhores qualidades, seu amor e cuide de seu corpo, sem neuroses. Seja feliz!

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Lições para 'o caminho' [Km 261]

Uma prece dos índios ojibwa:

"Grande Espírito, já que procurei entender a voz do vento e o sopro que me criou, escuta-me:
- Eu venho a Ti como um de Teus numerosos filhos. Sou falível e pequeno; preciso de Tua sabedoria e Tua força. Deixa-me andar na Tua beleza, e faz com que meus olhos sempre percebam o vermelho e a púrpura do entardecer. Faz com que minhas mãos respeitem as coisas que criastes, e que minhas orelhas consigam entender Tua voz. Faz-me sábio, de modo que eu possa absorver o que ensinastes a meu povo, e aprender as lições que escondestes em cada folha e em cada rochedo.
Eu Te peço força e sabedoria; não para ser superior a meus irmãos, mas para que possa vencer o maior inimigo que tenho: eu mesmo. Assim, meu espírito poderá retornar a ti sem pecado."

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terça-feira, novembro 26, 2013

Lições para 'o caminho' [Km 260]

Desde que iniciei as minhas viagens de barco, em 1984 – quando fiz a primeira travessia solitária do Atlântico sul a remo, indo da costa da África até a do Brasil –, eu nunca me senti só durante a navegação, sempre estive ocupado. Esse não é um mundo para quem é frágil emocionalmente. O cara que não basta a si mesmo não tem competência para a navegação solitária simplesmente porque não dá muito tempo de sofrer de saudades da família ou da namorada.
Minha viagem mais longa foi de 642 dias, no continente antártico e uma escala no ártico, entre 1990 e 1991. Para uma expedição como essa é preciso ter uma máquina que você conheça profundamente e ela tem que ser formidável. É uma demanda extrema em cima de um indivíduo que precisa ter muito autocontrole e equilíbrio. O navegador solitário não dispõe de muito tempo para ficar filosofando. Ele se envolve tecnicamente com a empreitada. É a mesma reflexão de um cara pilotando um carro de Fórmula 1: você tem que cuidar da estratégia, ficar de olho na meteorologia e prestar atenção no seu equipamento.
Qualquer um sabe velejar ou aprende, mas na navegação solitária é necessário ter competência técnica aliada à psicológica. O preparo não é só o desprendimento para se atirar sozinho três meses no mar. É preciso ter controle emocional e habilidade técnica para consertar aquilo que quebra. O navegador depende do seu próprio conhecimento e das próprias habilidades para sobreviver. O exercício de ficar sozinho é muito intenso, nesse caso, porque a embarcação demanda de você o tempo todo.
Quando você controla sozinho uma máquina, está cuidando da sua vida. A pressão é pelos problemas que acontecem pelo caminho. É cuidar para que nada quebre e, se quebrar, para saber consertar. Se a vela está com uma vibração, você nem consegue dormir de tanta preocupação. É uma navegação que treina você a ter controle em meio ao caos. Ao fim de uma jornada como essa, a sensação é magnífica. Sinto um alívio imenso. Mas é uma pressão que vicia: não demora muito e logo vem a vontade de sentir aquela adrenalina de novo.
(Amyr Klink, navegador, aventureiro, escritor)

sábado, junho 08, 2013

Lições para 'o caminho' [Km 259]

É fundamental fazermos uma distinção clara entre egoísmo e individualismo: decidir como será sua vida é direito legítimo de cada indivíduo.
O egoísta é o que, não sendo autossuficiente, busca a companhia daquelas pessoas que possam lhe dar o que necessitam: não são independentes.
Um egoísta não pode cogitar de viver sozinho, pois isso implica autonomia e competência para suprir todas as suas necessidades essenciais.
O individualismo pressupõe competência para a independência: essa é a condição essencial para que alguém possa decidir livremente o destino.
Penso que é mais que legítimo tentarmos prever o que irá nos acontecer no futuro: casar com uma pessoa problemática pode ser muito sofrido.
A razão existe para ser usada em nosso beneficio: quem não está disposto a renunciar parcialmente à sua liberdade não deve mesmo ter filhos!

(Flávio Gikovate, médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor)