Amor Versus Individualidade
(Flávio Gikovate)
Ao longo do segundo ano de vida a criança vivencia enorme avanço em suas competências: aprende a andar, a formular as primeiras frases, aprimora suas aptidões motoras etc. Se até então seu maior prazer era ficar no colo da mãe, usufruindo da paz e aconchego similar ao que foi perdido com o nascimento e sentindo por ela aquilo que chamamos de amor, agora ela gosta também de circular, especular sobre o ambiente, tentar entender para que servem e como é que funcionam os objetos. Coloca quase tudo que encontra na boca, tenta sentir seu tato, observa o que acontece quando deixa que caiam no chão. Dá sinais de grande satisfação a cada nova descoberta. Está praticando os primeiros atos próprios de sua individualidade - e se deleitando com eles.
Tudo isso acontece na presença da mãe. Sim, porque se ela for para um outro local, a criança imediatamente abandona o que está fazendo e sai em disparada atrás dela. O mesmo acontece se levar um tombo: corre chorando de volta para o colo. Diante da dor física ou da iminência de distanciamento exagerado da mãe, a sensação de desamparo cresce muito rapidamente e aí se torna absolutamente necessária a reaproximação. Há, pois, uma clara alternância de preferências: estando tudo em ordem, o que a criança quer é exercer os prazeres da sua individualidade em formação; ao menor desconforto, busca no aconchego materno (amor) o remédio para todas as dores.
Não há como não compararmos nossos comportamentos ditos adultos com o que acabei de descrever: queremos exercer nossa individualidade com a máxima liberdade, mas queremos voltar para casa e encontrar o parceiro à nossa espera. Ficamos bem longe da pessoa amada por algum tempo, mas depois o desejo maior é o de nos aconchegarmos; se isso não é possível, sentimos a dor forte correspondente à saudade (mistura de abandono com lembrança do calor que advém da companhia). Temos a nosso favor o benefício de um imaginário mais rico e a capacidade de nos comunicar com o amado à distância graças aos recursos tecnológicos: sentimos-nos aconchegados, mesmo longe, graças às palavras e juras de amor.
No convívio íntimo, parece que queremos mesmo é encontrar uma fórmula capaz de conciliar amor e individualidade: quero, por exemplo, assistir ao programa de TV do meu interesse e quero que minha amada esteja ao meu lado, se possível bem agarradinha. Ela, também interessada no aconchego, poderá tentar achar graça, por exemplo, no jogo de futebol que tanto me encanta. Mas talvez não consiga e aí começam os problemas. Ela se afastará, indo em busca daqueles que são os seus reais interesses individuais. Eu me sentirei rejeitado, abandonado e mal amado; tentarei pressioná-la com o intuito de fazer com que volte. Ela, prejudicada em seus legítimos direitos, irá se revoltar e a briga (chamada de briga normal dos casais) será inevitável.
O homem é, ao mesmo tempo, a criança e a mãe. O mesmo vale para a mulher. Querem exercer sua individualidade, mas sem se afastar muito um do outro. Lutarão pelo poder, para definir quem irá impor o ritmo e a programação. Por maiores que sejam as afinidades, sempre irão existir atividades que são do interesse exclusivo de um dos membros do casal. A fórmula tradicional - homens mandam e mulheres obedecem - não funciona mais (felizmente).
O que fazer? Só há um jeito: o crescimento emocional de ambos para que a dependência típica do amor infantil se atenue. Que cada um consiga se sentir em condições de exercer suas atividades, de modo a liberar o parceiro para fazer o mesmo.
** Flávio Gikovate é médico psiquiatra, psicoterapeuta e escritor.
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sábado, março 13, 2010
sexta-feira, janeiro 22, 2010
Lições para 'o caminho' [Km 235]
"Viver sem correr riscos normalmente resulta em arrependimentos futuros. Todos receberam talentos e sonhos. Às vezes, ambas as coisas não combinam. Mas, na maioria das vezes, comprometemos as duas coisas antes mesmo de descobrirmos. Mais tarde, por mais sucesso que possamos ter, nos vemos recordando com saudades daquele tempo em que deveríamos ter perseguido nossos 'verdadeiros' sonhos e nossos 'verdadeiros' talentos por tudo o que eles valiam. Não se deixe ser pressionado a pensar que seus sonhos ou seus talentos não são sensatos. Eles nunca tiveram por objetivo ser sensatos. Eles tiveram por objetivo trazer alegria e satisfação para a sua vida."
(Richard Edler, presidente de uma agência de publicidade)
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quarta-feira, maio 19, 2004
Lições para 'o caminho' [Km 017]
Logo abaixo você tem uma poesia escrita pela Rosana Braga. Há muito tempo que não leio uma declaração de sentimentos tão clarividente e surpreendente; que consegue ser emotiva e racional ao mesmo tempo.
Vale à pena dar uma conferida nesta demonstração do quanto o amor é dinâmico, assim como são nossos outros 'caminhos'.
Tenha um ótimo. Relaxe! Divirta-se!!
Um grande abraço,
Oacir...
Para um amor que se foi...
(Autora: Rosana Braga)
Depois de você, a poesia fez silêncio...
Depois de você, o afeto deixou saudade.
Depois de nós, não sei onde deixei o abraço,
o beijo molhado, o corpo suado, o cheiro de amor...
Fico a me procurar no meio de mim mesma
e descubro que algo adormeceu depois de você.
Mas ainda sinto de leve na pele a força do que vivemos,
a paixão com que nos amamos...
Ainda trago no corpo a sensação de ter sido amada
na boca, o gosto da mulher que fui em seus braços!
Tento resgatar o que de quase incontrolável senti,
mas sei que cada amor é único,
para ser vivido profundamente e depois...
Valer pelo que se viveu. Pois é só o que vale.
Pode até ter parecido pouco;
Pode até ter sido curto,
mas foi sem regras... Apenas sentimentos...
Tão fugaz quanto o prazer...
Tão pessoal quanto a dor...
E tão inexplicável quanto o amor...
Esta poesia estará no novo livro da Rosana Braga: "AMOR - sem regras para viver".
Copyright © 2004 by Rosana Braga Todos os direitos reservados. All rights reserved.
Vale à pena dar uma conferida nesta demonstração do quanto o amor é dinâmico, assim como são nossos outros 'caminhos'.
Tenha um ótimo. Relaxe! Divirta-se!!
Um grande abraço,
Oacir...
Para um amor que se foi...
(Autora: Rosana Braga)
Depois de você, a poesia fez silêncio...
Depois de você, o afeto deixou saudade.
Depois de nós, não sei onde deixei o abraço,
o beijo molhado, o corpo suado, o cheiro de amor...
Fico a me procurar no meio de mim mesma
e descubro que algo adormeceu depois de você.
Mas ainda sinto de leve na pele a força do que vivemos,
a paixão com que nos amamos...
Ainda trago no corpo a sensação de ter sido amada
na boca, o gosto da mulher que fui em seus braços!
Tento resgatar o que de quase incontrolável senti,
mas sei que cada amor é único,
para ser vivido profundamente e depois...
Valer pelo que se viveu. Pois é só o que vale.
Pode até ter parecido pouco;
Pode até ter sido curto,
mas foi sem regras... Apenas sentimentos...
Tão fugaz quanto o prazer...
Tão pessoal quanto a dor...
E tão inexplicável quanto o amor...
Esta poesia estará no novo livro da Rosana Braga: "AMOR - sem regras para viver".
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