sábado, outubro 13, 2012
Lições para 'o caminho' [Km 254]
Por que o número de cirurgias plásticas e implantes de silicone não pára de aumentar?
Phillips – Hoje as pessoas têm mais medo de morrer do que no passado. Há uma preocupação desmedida com o envelhecimento, com acidentes e doenças. É como se o mundo pudesse existir sem essas coisas. Há uma enorme sensação de invisibilidade. Todo mundo acha que ficou de fora de algo, mas não sabe do que exatamente. É como se sempre houvesse uma festa imperdível em algum lugar e ninguém conseguisse encontrar o local. A obsessão por beleza reflete a necessidade de ser amado e aceito.
Essa necessidade é maior hoje do que era no passado?
Phillips – Na cultura atual, parece que há apenas dez pessoas que realmente estão vivendo. São as celebridades. O resto encontra-se num nível bem mais baixo. Isso tudo é um absurdo sem tamanho. A idéia de uma vida boa foi substituída pela de uma vida a ser invejada. Esse estado de coisas deixa muita gente enfurecida e infeliz.
Por que mulheres e homens parecem totalmente obcecados por dietas de emagrecimento e exercícios?
Phillips – É uma nova versão do que Freud chamou de histeria. Mas, desde que ele escreveu sobre o assunto, as coisas pioraram. Todos devem estar se sentindo muito enfermos e vulneráveis para se preocupar de forma tão doentia com a saúde. O sexo é outro assunto preocupante. Hoje todo mundo fala de sexo, mas ninguém diz nada interessante. É uma conversa estereotipada atrás da outra. Vemos exageros até com crianças, que aprendem danças sensuais e são expostas ao assunto muito cedo. Estamos cada vez mais infelizes e desesperados com o estilo de vida que levamos.
Isso tem relação com o número de casos de depressão?
Phillips – Muitas pessoas conseguem suportar o mundo contemporâneo apenas num estado de depressão. Se não estivessem assim, ficariam enfurecidas e tentariam mudar o mundo. Hoje trabalhamos e produzimos numa velocidade que impede a reflexão sobre o significado de nossa vida. Estamos hipnotizados. Vivemos em sociedades em que é mais importante ser rico do que ter amigos íntimos, mais importante ser famoso do que amar. Isso é enlouquecedor. Estamos todos muito sós e famintos de contatos eróticos que sejam genuinamente criativos.
O que é depressão?
Phillips – Para muita gente, é melhor estar quase morto que totalmente vibrante diante de uma situação difícil. A depressão funciona como um escudo para evitar situações conflituosas. Esse tipo de comportamento certamente aumentou. Dito isso, sofremos de outro tipo de problema. É a indústria do diagnóstico. Nos consultórios, qualquer tristeza é chamada de depressão.
Muitas crianças têm agenda lotada de compromissos. Há tempo para ser criança no mundo atual?
Phillips – Com certeza, não. As crianças entram na corrida pelo sucesso muito cedo e ficam sem tempo para sonhar. Há grande ansiedade da parte dos pais em relação ao futuro. Essa pressão está literalmente enlouquecendo muitas crianças. A decisão sobre a profissão está acontecendo cada vez mais cedo. No século XIV, se as pessoas fossem perguntadas sobre o que queriam da vida, diriam que buscavam a salvação divina. Hoje a resposta é: "ser rico e famoso". Existe uma espécie de culto que faz com que as pessoas não consigam enxergar o que realmente querem da vida.
Do ponto de vista dos pais, não é legítimo o desejo de sucesso e riqueza para os filhos?
Phillips – Claro. Não acho que as crianças deveriam ser educadas para se tornar revolucionárias. Mas é possível melhorar o que temos. Os pais devem ter como objetivo garantir o futuro de seus filhos e, ao mesmo tempo, deixá-los mais à vontade, com mais tempo e espaço para ser menos focados, menos objetivos. Adiar as decisões sobre o futuro, dar tempo ao tempo.
O senhor consegue atingir esse equilíbrio com sua filha de 8 anos?
Phillips – Acho que sim. Não fico tentando entender tudo que minha filha faz e diz. Estou mais preocupado em que se divirta. Não acredito num planejamento milimétrico para o futuro de uma criança, como se tudo pudesse ser programado.
Há alguns anos se fala da necessidade de dar limites aos filhos. Por que os pais acham essa tarefa tão difícil?
Phillips – É assim porque os pais não acreditam nos limites. É preciso acreditar neles para que funcionem. A cultura em que vivemos não facilita esse trabalho. Os pais criam limites que a cultura não sanciona. Por exemplo: alguns pais tentam controlar a dieta dos filhos dizendo que é mais saudável comer verduras do que salgadinhos enquanto as propagandas dão a mensagem diametralmente oposta. O mesmo pode ser dito em relação ao comportamento sexual dos adolescentes. Muitos pais procuram argumentar que é necessário ter um comportamento responsável enquanto a mídia diz que não há limites.
Como os pais podem resolver esse problema?
Phillips – Resolver o problema é algo muito ambicioso. O que podemos fazer é instruir as crianças a interpretar a cultura em que vivemos. O que está a nosso alcance é ensiná-los a ser críticos. Mostrar que as propagandas não são ordens e devem ser analisadas. Será que realmente precisamos de tal coisa? Será que é a melhor opção? Será que tal comportamento é o melhor? Outro problema é a incapacidade dos adultos de ser adultos. Os pais também devem aprender a ser odiados pelos filhos em algumas ocasiões. Muitas pessoas têm filhos porque acham que o nascimento deles é uma garantia de que serão amados de forma incondicional e eterna. Por isso, têm receio do ódio e da desaprovação deles. Tratam crianças como se fossem adultos. Uma coisa precisa ficar clara de uma vez por todas: embora reclamem, as crianças dependem do controle dos adultos. Quando não têm esse controle, sentem-se completamente poderosas, mas ao mesmo tempo perdidas. Hoje há muitos pais com medo dos próprios filhos.
Os remédios e as terapias alternativas estão acabando com a psicanálise?
Phillips – A psicanálise está apenas começando. A experiência de ser ouvido é muito poderosa. Definitivamente, tem efeito benéfico. É verdade que num mundo ideal ninguém precisaria de analista. O diálogo com os amigos daria conta do recado. O problema é que não temos a coragem de contar certas coisas aos amigos. Outras podemos até contar, mas os amigos não sabem como ajudar.
Os amigos, pelo menos, não cobram uma exorbitância para ouvir, não é verdade?
Phillips – Essa crítica é totalmente válida. Ninguém deveria escolher a profissão de psicanalista para enriquecer. Os preços das sessões deveriam ser baixos e o serviço, acessível. Deve-se desconfiar de analistas caros. A psicanálise não pode ser medida pelo padrão consumista, do tipo "se um produto é caro, então é bom". Todos precisam de um espaço para falar e refletir sobre sua vida.
terça-feira, abril 06, 2010
Lições para 'o caminho' [Km 243]
- Às vezes a gente se acostuma com o que vê nos filmes, e termina esquecendo a verdadeira história - diz um amigo, enquanto olhamos juntos o porto de Miami.
- Lembra-se dos Dez Mandamentos?
- Claro que me lembro. Moisés – Charton Heston – em determinado momento levanta seu bastão, as águas se dividem, e o povo hebreu atravessa a grande água.
- Na Bíblia é diferente - comenta meu amigo.
- Ali, Deus ordena a Moisés: "diz aos filhos de Israel que marchem". E só depois que começam a andar é que Moisés levanta o bastão, e o Mar Vermelho se abre.
"Só a coragem no caminho faz com que o caminho se manifeste".
Artistas da vida
Preciso viver todas as graças que Deus me deu hoje. A graça não pode ser economizada. Não existe um banco onde depositamos as graças recebidas, para utilizá-las de acordo com nossa vontade. Se eu não usufruir destas bênçãos, vou perdê-las irremediavelmente.
Deus sabe que somos artistas da vida. Um dia nos dá formão para esculturas, outro dia pincéis e tela, outro dia nos dá uma pena para escrever. Mas jamais conseguiremos usar formão em telas, ou penas em esculturas. A cada dia, o seu milagre. Preciso aceitar as bênçãos de hoje, para criar o que tenho; se fizer isso com desapêgo e sem culpa, amanhã receberei mais.
Junho 2001
A vida é como uma grande corrida de bicicleta - cuja meta é cumprir a lenda Pessoal.
Na largada, estamos juntos - compartilhando camaradagem e entusiasmo. Mas, à medida que a corrida se desenvolve, a alegria inicial cede lugar aos verdadeiros desafios: o cansaço, a monotonia, as dúvidas sobre a própria capacidade.
Reparamos que alguns amigos desistiram do desafio - ainda estão correndo, mas apenas por que não podem parar no meio de uma estrada; eles são numerosos, pedalam ao lado do carro de apoio, conversam entre si, e cumprem uma obrigação.
Terminamos por nos distanciar deles; e então somos obrigados a enfrentar a solidão, as surpresas com as curvas desconhecidas, os problemas com a bicicleta. E, ao cabo de algum tempo, começamos a nos perguntar se vale a pena tanto esforço.
Sim, vale a pena. É só não desistir.
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domingo, setembro 20, 2009
Lições para 'o caminho' [Km 220]
(Betty Brown, 89 anos)
O mundo parece mais vazio desde que Gertrude morreu. Nós éramos as melhores amigas desde o jardim-da-infância e nos falávamos toda semana. Agora, quando o telefone toca no domingo pela manhã, au ainda dou um salto, pensando: "É Gertrude.". Sempre vou ficar triste aos domingos, sentindo a falta dela.
Você não deve nunca desperdiçar uma chance de passar algum tempo com um velho amigo. É claro que passagens aéreas são caras. Talvez você não goste do marido dela. Mesmo que vocês não vejam mais as coisas da mesma forma - que diferença isso faz? Um velho amigo pode estimulá-lo como ninguém mais é capaz. Ele sabe o que você aprontou. Conheceu seus pais. Estava com você antes que qualquer um de vocês soubesse quem eram. Há todas as velhas histórias, todas as velhas risadas. Depois de perdê-lo, não há como recuperar isso.
Copyright © 2002 by Wendy Lustbader ('O que vale a pena...' - 6.a Edição) Todos os direitos reservados. All rights reserved.
domingo, maio 17, 2009
Lições para 'o caminho' [Km 199]
(Pablo Neruda)
É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.
sábado, fevereiro 28, 2009
Lições para 'o caminho' [Km 186]
Têm que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os perfeitos de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos, nem chatos.
Quero-os metade infância e metade velhice!
Crianças, para que não se esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma ilusão estéril."
(Oscar Wilde)
quarta-feira, julho 20, 2005
Lições para 'o caminho' [Km 072]
(Autor desconhecido)
Pode ser que um dia deixemos de nos falar.
Mas, enquanto houver amizade,
faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe.
Mas, se a amizade permanecer,
um do outro há de se lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos.
Mas, se formos amigos de verdade,
a amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos.
Mas, se ainda sobrar amizade,
nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe.
Mas, com a amizade
construiremos tudo novamente,
cada vez de forma diferente,
sendo único e inesquecível cada momento
que juntos viveremos e nos
lembraremos pra sempre.
quarta-feira, julho 06, 2005
Lições para 'o caminho' [Km 069]
- Preste atenção a todos os momentos, porque a oportunidade, o 'instante mágico', está ao nosso alcance, embora sempre o deixemos, passar, por causa do sentimento de culpa. Portanto, evite gastar seu tempo culpando a si mesmo: o universo se encarregará de corrigí-lo, se você não for digno do que está fazendo.
E como o universo vai me corrigir?
- Não será através de tragédias; estas acontecem porque são parte da vida, e não devem ser encaradas como punição. Geralmente, o universo nos indica que estamos errados, quando nos tira o que temos de mais importante: nossos amigos.
*Trecho de anotações de 1989, de uma conversa entre Paulo Coelho e J. (seu "mestre").
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