Desde que iniciei as minhas viagens de barco, em 1984 – quando fiz a primeira travessia solitária do Atlântico sul a remo, indo da costa da África até a do Brasil –, eu nunca me senti só durante a navegação, sempre estive ocupado. Esse não é um mundo para quem é frágil emocionalmente. O cara que não basta a si mesmo não tem competência para a navegação solitária simplesmente porque não dá muito tempo de sofrer de saudades da família ou da namorada.
Minha viagem mais longa foi de 642 dias, no continente antártico e uma escala no ártico, entre 1990 e 1991. Para uma expedição como essa é preciso ter uma máquina que você conheça profundamente e ela tem que ser formidável. É uma demanda extrema em cima de um indivíduo que precisa ter muito autocontrole e equilíbrio. O navegador solitário não dispõe de muito tempo para ficar filosofando. Ele se envolve tecnicamente com a empreitada. É a mesma reflexão de um cara pilotando um carro de Fórmula 1: você tem que cuidar da estratégia, ficar de olho na meteorologia e prestar atenção no seu equipamento.
Qualquer um sabe velejar ou aprende, mas na navegação solitária é necessário ter competência técnica aliada à psicológica. O preparo não é só o desprendimento para se atirar sozinho três meses no mar. É preciso ter controle emocional e habilidade técnica para consertar aquilo que quebra. O navegador depende do seu próprio conhecimento e das próprias habilidades para sobreviver. O exercício de ficar sozinho é muito intenso, nesse caso, porque a embarcação demanda de você o tempo todo.
Quando você controla sozinho uma máquina, está cuidando da sua vida. A pressão é pelos problemas que acontecem pelo caminho. É cuidar para que nada quebre e, se quebrar, para saber consertar. Se a vela está com uma vibração, você nem consegue dormir de tanta preocupação. É uma navegação que treina você a ter controle em meio ao caos. Ao fim de uma jornada como essa, a sensação é magnífica. Sinto um alívio imenso. Mas é uma pressão que vicia: não demora muito e logo vem a vontade de sentir aquela adrenalina de novo.
(Amyr Klink, navegador, aventureiro, escritor)
terça-feira, novembro 26, 2013
Lições para 'o caminho' [Km 260]
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sábado, junho 08, 2013
Lições para 'o caminho' [Km 259]
É fundamental fazermos uma distinção clara entre egoísmo e individualismo: decidir como será sua vida é direito legítimo de cada indivíduo.
O egoísta é o que, não sendo autossuficiente, busca a companhia daquelas pessoas que possam lhe dar o que necessitam: não são independentes.
Um egoísta não pode cogitar de viver sozinho, pois isso implica autonomia e competência para suprir todas as suas necessidades essenciais.
O individualismo pressupõe competência para a independência: essa é a condição essencial para que alguém possa decidir livremente o destino.
Penso que é mais que legítimo tentarmos prever o que irá nos acontecer no futuro: casar com uma pessoa problemática pode ser muito sofrido.
A razão existe para ser usada em nosso beneficio: quem não está disposto a renunciar parcialmente à sua liberdade não deve mesmo ter filhos!
(Flávio Gikovate, médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor)
O egoísta é o que, não sendo autossuficiente, busca a companhia daquelas pessoas que possam lhe dar o que necessitam: não são independentes.
Um egoísta não pode cogitar de viver sozinho, pois isso implica autonomia e competência para suprir todas as suas necessidades essenciais.
O individualismo pressupõe competência para a independência: essa é a condição essencial para que alguém possa decidir livremente o destino.
Penso que é mais que legítimo tentarmos prever o que irá nos acontecer no futuro: casar com uma pessoa problemática pode ser muito sofrido.
A razão existe para ser usada em nosso beneficio: quem não está disposto a renunciar parcialmente à sua liberdade não deve mesmo ter filhos!
(Flávio Gikovate, médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor)
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quarta-feira, fevereiro 13, 2013
Lições para 'o caminho' [Km 258]
A humildade corresponde a um estado de alma no qual uma pessoa encontra alguma serenidade que deriva dela saber o tamanho de sua ignorância.
Os que toleram bem as dúvidas tendem a ser mais humildes; os que não as aceitam se apegam a convicções e as defendem com certa arrogância.
A humildade não tem a ver com submissão e obediência a outras pessoas: o importante é conseguir controlar a lamentável vaidade intelectual.
Aqueles que cultivam a humildade são eternos aprendizes, sempre dispostos a trocar suas ideias por outras que lhes pareçam mais adequadas.
A sabedoria corresponde a um estado de serenidade e grande prazer que deriva do entendimento satisfatório de si mesmo e da condição humana.
Encontrar-se com a sabedoria é difícil e trabalhoso; porém, muita gente poderá chegar lá. Fama e fortuna sempre contemplarão a uns poucos.
São poucas as pessoas que, hoje em dia, buscam a sabedoria. A maioria está voltada para atividades competitivas, essas sim muito valorizadas.
(Flávio Gikovate, médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor)
Os que toleram bem as dúvidas tendem a ser mais humildes; os que não as aceitam se apegam a convicções e as defendem com certa arrogância.
A humildade não tem a ver com submissão e obediência a outras pessoas: o importante é conseguir controlar a lamentável vaidade intelectual.
Aqueles que cultivam a humildade são eternos aprendizes, sempre dispostos a trocar suas ideias por outras que lhes pareçam mais adequadas.
A sabedoria corresponde a um estado de serenidade e grande prazer que deriva do entendimento satisfatório de si mesmo e da condição humana.
Encontrar-se com a sabedoria é difícil e trabalhoso; porém, muita gente poderá chegar lá. Fama e fortuna sempre contemplarão a uns poucos.
São poucas as pessoas que, hoje em dia, buscam a sabedoria. A maioria está voltada para atividades competitivas, essas sim muito valorizadas.
(Flávio Gikovate, médico-psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e escritor)
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