Logo abaixo, você tem trechos da entrevista que Erin Brockovich concedeu à Revista Veja, na edição desta semana (01/09/2004).
No início dos anos 90, ela participou ativamente de um dos maiores processos judiciais, do estado da Califórnia (EUA), movidos contra grandes corporações. Sua persistência e perseverança em defender o direito de vítimas de contaminação de resíduos químicos, inspiraram o filme que teve Julia Roberts como protagonista.
Erin Brockovich, tem 43 anos; é mãe de três filhos e ainda trabalha no mesmo escritório de advocacia, lutando pelas mesmas causas.
Um grande abraço,
Oacir...
Veja - A senhora acreditou numa causa, lutou por ela até o fim e venceu. O que é preciso para seguir seu exemplo?
Erin - A atitude de cada um de nós faz toda a diferença e pode mover montanhas. Se uma pessoa ousa dizer: "Isso está errado, e eu posso mudar essa situação", outras se sentem estimuladas a seguir o mesmo caminho. Quando você se dá conta, já criou um movimento poderoso. Muitas vezes não temos consciência do tamanho de nossa capacidade. Ela geralmente é muito maior do que imaginamos. Mas primeiro precisamos aprender a gostar de nós mesmos e acreditar que somos capazes de realizar qualquer coisa que tenhamos vontade. Isso nos dá mais coragem e confiança para ousar e fazer o que parece impossível. Se pensamos assim, mesmo em caso de fracasso vamos tentar novamente até atingir nosso objetivo.
Veja - A senhora não teve medo de enfrentar uma grande corporação?
Erin - Não, porque havia uma força muito maior que me movia naquele momento: a vontade de ajudar as pessoas atingidas pela contaminação e o senso de justiça. Quando descobri que a vida daqueles moradores estava em perigo e que a culpa era de uma empresa de eletricidade, passei a desejar que a justiça fosse feita. No início, todo mundo, inclusive meu chefe no escritório de advocacia, achou que eu estivesse louca pela simples idéia de querer mover a ação. Aos poucos, devido à minha persistência, começaram a acreditar que poderíamos vencer aquela batalha.
Veja - O que a atraiu em especial no caso da contaminação causada pela empresa de eletricidade?
Erin - Os relatos das vítimas despertaram minha atenção. Li sobre o caso e fiquei curiosa para conhecê-las. Aos poucos, aquelas pessoas começaram a se tornar parte de minha vida. Todos os dias eu ia até a cidadezinha atingida pela contaminação e elas faziam hambúrguer e cachorro-quente para mim. Ficaram minhas amigas, tão próximas que algumas se tornaram parte de minha família. Gostava delas. Comecei a encarar minha luta não como um trabalho, e sim como algo que eu fazia pelas pessoas que amava e queria bem. Eu me preocupo com o bem-estar das pessoas, das famílias, das crianças. E todos nós estamos no mesmo barco, respiramos o mesmo ar, compartilhamos os mesmos recursos naturais. Meu grande desafio é fazer com que as pessoas acreditem que vale a pena lutar pela saúde de sua família.
Veja - De onde a senhora tira tanta valentia?
Erin - De certa forma, foi o fato de sofrer de dislexia que me tornou persistente para conseguir as coisas. Na escola, eu tinha de me esforçar duas vezes mais que os colegas para obter os mesmos resultados. Com o tempo, comecei a pensar da seguinte forma: se uma porta se fecha, uma janela se abre. Ou seja, se não consigo obter aquilo de que preciso agindo da forma como todo mundo age, por ser disléxica, tenho de descobrir outras formas de conseguir os mesmos resultados, ou até resultados melhores.
Veja - A senhora é feliz?
Erin - Sim, e certamente sou mais feliz hoje que há dez anos. Porque todos os dias procuro aprender com meus erros e acertos, adquirir mais experiência de vida. E, quanto mais sabedoria eu tenho, mais confiança eu ganho. E, quanto mais confiante, mais feliz me sinto.
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