quinta-feira, maio 03, 2007

Lições para 'o caminho' [Km 135]

Da solidão completa

...Lembro-me de um comentário feito durante o jantar: alguém que acabara de divorciar-se dizia "agora tenho toda a liberdade com que sempre sonhei." É mentira. Ninguém quer este tipo de liberdade, todos nós queremos um compromisso, uma pessoa para estar ao nosso lado vendo as belezas de Genebra, discutindo as visões da vida, ou até mesmo dividindo um sanduíche. Melhor comer metade de um que come-lo inteiro, sem ter alguém com quem compartilhar nada, nem mesmo um pouco de comida. Melhor ficar com fome do que ficar sozinho. Porque quando você está sozinho - e eu falo da solidão que não escolhemos, mas que somos obrigados a aceitar - é como se não fizesse mais parte da raça humana.
Começo a caminhar para o lindo hotel do outro lado do rio, com seu quarto super confortável, seus empregados atenciosos, seu serviço de primeiríssima qualidade. Daqui a pouco vou dormir e amanhã esta estranha sensação que - não sei por que razão - me atacou hoje, será apenas uma lembrança remota e estranha, porque não terei nenhum motivo para dizer: estou só.
No caminho de volta, cruzo com outras pessoas solitárias; elas tem dois tipos de olhares: arrogantes (porque querem fingir que escolheram a solidão nesta linda noite) ou tristes (porque entendem que não há nada pior na vida). Penso em conversar com elas, mas sei que têm vergonha da própria solidão. Talvez seja melhor que cheguem ao limite e então entendam que é preciso ousar, falar com estranhos, descobrir lugares para encontrar pessoas, evitar ir para casa e assistir TV ou ler um livro - porque se fizerem isso o sentido da vida estará perdido, a solidão terá se transformado em um vício, e a partir de então o longo caminho de volta em direção ao ser humano já não será mais encontrado.

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