Continue no deserto
- Por que o senhor vive no deserto?
- Porque não consigo ser o que desejo. Quando começo a ser eu mesmo, as pessoas me tratam com uma reverência falsa. Quando sou verdadeiro a respeito de minha fé, então elas que começam a duvidar. Todos acreditam que são mais santos que eu, mas fingem-se de pecadores com medo de insultar minha solidão. Procuram mostrar o tempo todo que me consideram um santo; e assim se transformam em emissários do demônio, me tentando com o orgulho.
- Seu problema não é tentar ser quem é, mas aceitar os outros como são. E agir assim, é melhor continuar no deserto - disse o cavaleiro, afastando-se.
Perdoando os inimigos
O abade perguntou ao aluno preferido como ia seu progresso espiritual. O aluno respondeu que estava conseguindo dedicar a Deus todos os momentos de seu dia.
- Então, falta apenas perdoar os seus inimigos.
O rapaz ficou chocado:
- Mas não tenho raiva de meus inimigos!
- Você acha que Deus tem raiva de você?
- Claro que não!
- E mesmo assim você pede Seu perdão, não é verdade? Faça o mesmo com seus inimigos, mesmo que não sinta ódio por eles. Quem perdoa, está lavando e perfumando o próprio coração.
Qual o melhor caminho
Quando perguntaram ao abade Antonio se o caminho do sacrifício levava ao céu, este respondeu:
-Existem dois caminhos de sacrifício. O primeiro é o do homem que mortifica a carne, faz penitência, porque acha que estamos condenados. Este homem sente-se culpado, e julga-se indigno de viver feliz. Neste caso, ele não chega a lugar nenhum, porque Deus não habita a culpa. O segundo é o do homem que, embora sabendo que o mundo não é perfeito como todos queríamos que fosse, reza, faz penitência, oferece seu tempo e seu trabalho para melhorar o ambiente ao seu redor. Neste caso, a Presença Divina o ajuda o tempo todo, e ele consegue resultados no Céu.
O trabalho na lavoura
O rapaz cruzou o deserto, e chegou finalmente ao mosteiro de Sceta. Ali, pediu para assistir uma das palestras do abade - e recebeu permissão.
Naquela tarde, o abade discorreu sobre a importância do trabalho na lavoura.
No final da palestra, o rapaz comentou com um dos monges:
- Fiquei muito impressionado. Achei que ia encontrar um sermão iluminado sobre as virtudes e os pecados, e o abade só falava de tomates, irrigação, e coisas assim. Do lugar aonde venho, todos acreditam que Deus é misericórdia: basta rezar.
O monge sorriu, e respondeu:
- Aqui, nós acreditamos que Deus já fez a parte Dele; agora cabe a nós continuar o processo.
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