quinta-feira, agosto 27, 2009

Lições para 'o caminho' [Km 216]

A maior viagem

O surf ensina muito a quem está a fim de aprender. Ele, em sua forma pura, uma manifestação límpida e evidente de vida, ensina sobre coisas variadas. Inclusive sobre a morte. Mostra a todo tempo nossa fragilidade diante das forças que nos rodeiam, nos lembra que ela está por perto e assim nos faz fruir mais e melhor os momentos vividos.
...Talvez a morte seja mesmo, como diz a psicanálise clássica, o supremo redutor de tensões. Mas acreditamos que ela deva estar mais perto dos nossos olhos para vivermos mais e melhor e, também, que ela possa ser a maior viagem.
(Paulo Anis Lima, 10.08.2009)


...Viver é morrer lentamente, sim. Isso é real. Qualquer biólogo pode fundamentar cientificamente esse fato. Sem romance. Essa é a natureza do ser vivo que somos. A ideia de morrer lentamente é boa porque nos ajuda a ter mais intimidade com a morte e assim entendemos melhor a delicadeza e a inteligência do viver.
Acredito que a intimidade com a morte nos proporciona mais intimidade com a vida, nos aproxima da beleza da destruição e do caos que é vital para a nossa evolução. Mas o medo de morrer nos faz negar a realidade da morte. Assim, quando ela chega, nos surpreende, ou melhor, nos assusta e aterroriza, como se não fosse esperada, como se não pertencesse ao universo dos seres vivos.

Demorei para apagar do meu imaginário a figura apavorante da morte que aparecia sempre de repente, vinda de outro mundo, como alguém que chegava para pôr fim a uma festa à qual não tinha sido convidada. A imagem da morte como penetra indesejável, invasora repentina, como fato pontual, impede que a gente conviva com ela como fato natural com o qual negociamos a cada segundo. Justamente porque a morte é um mistério amedrontador e porque vem acompanhada do sentimento de perda, a intimidade cotidiana com ela é necessária.
Não estou dizendo que é simples nem fácil. Mas que é necessário para entender a dinâmica da vida e poder negociar com a morte com mais competência, lentamente. Quem vive a morte lenta vive mais porque cuida melhor da vida. E, o melhor de tudo, não se assusta e não sofre tanto com o fim que com certeza chegará.
Daqui do alto dos meus 60 anos, convivo cada dia com mais intimidade com a morte e posso dizer que ela não me amedronta. Pelo contrário, me desperta muita curiosidade. Se posso dar um conselho para os que ainda estão longe dos 60, aqui vai: morram lentamente! Não deixem para a última hora. A vida agradece.
(Ricardo Guimarães, 10.08.2009)

sexta-feira, agosto 21, 2009

Lições para 'o caminho' [Km 215]

Frequentemente, as forças do mal são mais sutis e menos manifestas. Quase tão horrível como o mal em si é a sua negação, como no caso das pessoas que passam pela vida vendo tudo cor-de-rosa. Na verdade, a negação do mal pode em certos sentidos perpetuar o próprio mal. No livro 'Em Busca das Pedras', escrevi sobre essa tendência, comum em muitas pessoas com boa situação financeira, cujo dinheiro isola-as no seu mundo de opulência. Elas não conseguem realmente enxergar a pobreza que existe bem perto delas, e assim evitam aceitar qualquer responsabilidade que por acaso tenham no problema. Muitos pegam o trem todos os dias nos seus refúgios suburbanos, para trabalhar no centro de Nova York, sem tirar as vistas de seus jornais quando passam pelos setores mais empobrecidos do Harlem. As favelas tornam-se invisíveis e o mesmo acontece, assim, com quem nelas está imerso.
De outro lado estão aqueles que têm cínica opinião a respeito do mundo e parecem acreditar que o mal se esconde detrás de tudo. A visão deles é sombria e fatalista, mesmo em meio à inocência e à beleza. Eles procuram o pior em tudo, sem nunca reparar no que é positivo e dá sustentação à vida. Quando o desespero e o cinismo são como demônios para nós, arriscamo-nos também a perpetuar o mal. Embora não possamos evitar os nossos demônios, podemos optar por não lhes dar as boas-vindas nem nos aliar a eles. Para sermos sadios, devemos combatê-los pessoalmente.

Copyright © 2009 by M. Scott Peck Todos os direitos reservados. All rights reserved.

sábado, agosto 15, 2009

Lições para 'o caminho' [Km 214]

"Infeliz é o espírito ansioso pelo futuro."
(Lucius Annaeus Seneca)

"Meu futuro começa quando eu acordo toda manhã - todos os dias eu encontro algo criativo para fazer com a minha vida."
(Miles Davis)

"Enquanto você não valorizar a si mesmo, você não valorizará o seu tempo. Enquanto você não valorizar o seu tempo, você não fará nada com ele."
(M. Scott Peck)

"Cada hoje, bem vivido, faz do ontem um sonho de felicidade e de cada amanhã uma visão de esperança. Cuide, portanto, deste único dia, pois ele e somente ele é a vida."
(Poema Sânscrito)

"Não deixe o medo do tempo que levará para realizar algo ficar no caminho de fazê-lo. O tempo passará de qualquer forma; devemos igualmente colocar esse tempo passageiro no melhor uso possível."
(Earl Nightingale)

domingo, agosto 09, 2009

Lições para 'o caminho' [Km 213]

Dúvidas do cotidiano
(Flávio Gikovate)

As pessoas comentam que a paixão, aquele estado inicial do encantamento amoroso no qual o coração bate forte e tudo parece fascinante e assustador ao mesmo tempo, corresponde ao período mais interessante do relacionamento amoroso. Depois, com o passar do tempo, tudo tende à rotina e a uma certa monotonia já que a intensidade do amor diminui. É mesmo assim que as coisas acontecem?
Resposta: Penso de um modo diferente sobre o amor e a paixão. Acho a paixão uma condição dolorosa e na qual passamos muito medo: medo de perder aquela pessoa que, apesar de mal conhecermos, se transformou em essencial para nosso bem estar e felicidade; medo também que a relação evolua, condição na qual os compromissos mais sérios podem não estar nos nossos planos para aquele momento da vida; enfim, medo de um grande sofrimento, já que toda constituição de um elo é o embrião de uma possível ruptura! O amor, condição que se segue, corresponde a uma situação na qual os medos diminuíram muito tanto porque já conhecemos melhor o amado e desenvolvemos alguma segurança no relacionamento como porque já aceitamos de nos comprometer. Assim, paixão é amor + medo. Com o fim da paixão, vai embora o medo e o amor se mantém igual. Com o fim da paixão, acaba o filme de suspense e começa o filme de amor, mais calmo, mais doce. Amor é paz e aconchego ao lado de uma outra pessoa. Não é monótono e nem chato, mas é só isso. Acho ótimo que seja assim. Acho que temos que aprender a buscar nossas emoções mais fortes em outras áreas ao invés de tumultuarmos nossas relações amorosas. Vivenciamos tensões fortes e grande incerteza na vida prática, no trabalho, nos esportes etc. No amor, devemos buscar nosso porto seguro, adorável se houver companheirismo e afinidades intelectuais, além, é claro, das deliciosas sensações que as trocas de carícias eróticas determinam.


Como definir uma pessoa má? Trata-se de uma característica inata ou é algo que foi adquirido ao longo dos anos de formação? Como ajudar alguém a evoluir moralmente?
Resposta: Trata-se de uma questão muito complexa, mas eu penso que, para a grande maioria dos casos, a maldade é filha da fraqueza. Ou seja, não acredito que existam pessoas que gostem de ser más e se orgulhem disso. Atos maldosos são, quase sempre, derivados de emoções que escaparam do controle da pessoa, especialmente aqueles que dependem da inveja: ao admirar e valorizar algo em outra pessoa, a criatura mais fraca se sente diminuída e humilhada pela presença daquela virtude. Não sendo capaz de se conter, reage violentamente ao que foi sentido como uma agressão – a presença, no outro, da qualidade admirada e não possuída. Pessoas imaturas, egoístas e pouco tolerantes a contrariedades e frustrações é que fazem parte daquelas que chamamos de más, justamente porque investem contra nós sem que tenhamos feito algo de negativo para elas. Reagem com raiva pelo simples fato de sermos do modo como somos e isso lhes mostrar suas limitações e incompetências. É por isso que penso que se essas pessoas egoístas e invejosas conseguirem evoluir emocionalmente, o que implica em aprenderem a tolerar melhor as dores da vida, poderão perfeitamente se tornar criaturas portadoras das virtudes que tanto invejam. Tudo isso faz parte das nossas aquisições ao longo da vida e pode ser alcançado em qualquer idade. A verdade é que os egoístas gostam de mostrar que estão felizes mas não é verdade. Quem está feliz não age de forma agressiva – e gratuitamente – contra ninguém. Pessoa feliz não tem tanta inveja, não é tão insegura e ciumenta. É hora de pensarmos de forma mais séria sobre nossos valores morais e aqueles das pessoas que nos cercam. Uma sociedade que defina de modo mais claro o que são virtudes e o que são vícios ajudará tanto os adultos como suas crianças a evoluírem de forma mais rápida na direção da maturidade emocional e moral, condição fundamental para que as pessoas possam se sentir felizes, orgulhosas de si mesmas e, portanto, menos invejosas. Quem está bem se preocupa menos com os outros, com o que têm ou deixam de ter. Estão mesmo é interessadas em alcançar seus objetivos.

* Flávio Gikovate é médico psiquiatra, psicoterapeuta e escritor.

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segunda-feira, agosto 03, 2009

Lições para 'o caminho' [Km 212]

Como é que uma pessoa faz diferença? A história do mundo é simplesmente uma crônica dos feitos de um pequeno número de pessoas comuns que tiveram níveis extraordinários de empenho. Esses indivíduos que tiveram o poder de fazer uma diferença significativa na qualidade de nossas vidas são os homens e mulheres que chamamos de heróis.
Quem são seus heróis?
Acredito que você e eu - e todas as pessoas que conhecemos - temos a capacidade inata de sermos heróicos, de darmos passos ousados, corajosos e nobres para tornar a vida melhor para os outros, mesmo quando a curto prazo pareça que isso ocorre às nossas custas.
A capacidade de fazer a coisa certa, de ousar assumir e fazer diferença, está dentro de nós. A pergunta é: quando chegar o momento, você vai lembrar de que é um herói e reagir altruisticamente para apoiar os necessitados?
O que faz um herói? Um herói é uma pessoa que contribiu corajosamente mesmo sob as circunstâncias mas desafiadoras; um herói é um indivíduo que age de modo altruísta e exige mais de si mesmo do que os outros esperariam; um herói é alguém que desafia a adversidade fazendo o que acha certo, apesar do medo.
Um herói não é uma pessoa "perfeita". Nós não teríamos heróis se o padrão fosse este. Todos cometemos erros, mas isso não invalida as contribuições que fazemos no decorrer da vida. Heroísmo não é perfeição; heroísmo é humanidade.
(Anthony Robbins)