A maior viagem
O surf ensina muito a quem está a fim de aprender. Ele, em sua forma pura, uma manifestação límpida e evidente de vida, ensina sobre coisas variadas. Inclusive sobre a morte. Mostra a todo tempo nossa fragilidade diante das forças que nos rodeiam, nos lembra que ela está por perto e assim nos faz fruir mais e melhor os momentos vividos.
...Talvez a morte seja mesmo, como diz a psicanálise clássica, o supremo redutor de tensões. Mas acreditamos que ela deva estar mais perto dos nossos olhos para vivermos mais e melhor e, também, que ela possa ser a maior viagem.
(Paulo Anis Lima, 10.08.2009)
...Viver é morrer lentamente, sim. Isso é real. Qualquer biólogo pode fundamentar cientificamente esse fato. Sem romance. Essa é a natureza do ser vivo que somos. A ideia de morrer lentamente é boa porque nos ajuda a ter mais intimidade com a morte e assim entendemos melhor a delicadeza e a inteligência do viver.
Acredito que a intimidade com a morte nos proporciona mais intimidade com a vida, nos aproxima da beleza da destruição e do caos que é vital para a nossa evolução. Mas o medo de morrer nos faz negar a realidade da morte. Assim, quando ela chega, nos surpreende, ou melhor, nos assusta e aterroriza, como se não fosse esperada, como se não pertencesse ao universo dos seres vivos.
Demorei para apagar do meu imaginário a figura apavorante da morte que aparecia sempre de repente, vinda de outro mundo, como alguém que chegava para pôr fim a uma festa à qual não tinha sido convidada. A imagem da morte como penetra indesejável, invasora repentina, como fato pontual, impede que a gente conviva com ela como fato natural com o qual negociamos a cada segundo. Justamente porque a morte é um mistério amedrontador e porque vem acompanhada do sentimento de perda, a intimidade cotidiana com ela é necessária.
Não estou dizendo que é simples nem fácil. Mas que é necessário para entender a dinâmica da vida e poder negociar com a morte com mais competência, lentamente. Quem vive a morte lenta vive mais porque cuida melhor da vida. E, o melhor de tudo, não se assusta e não sofre tanto com o fim que com certeza chegará.
Daqui do alto dos meus 60 anos, convivo cada dia com mais intimidade com a morte e posso dizer que ela não me amedronta. Pelo contrário, me desperta muita curiosidade. Se posso dar um conselho para os que ainda estão longe dos 60, aqui vai: morram lentamente! Não deixem para a última hora. A vida agradece.
(Ricardo Guimarães, 10.08.2009)
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